O que Sobra (Príncipe Harry) - Gossip Girl da realeza
Não tenho nem um pouco o hábito de ler biografias, acho que ao todo só li por volta de duas ou três em toda a minha vida, mas quando vi uma passagem de O que Sobra na timeline do Twitter descrevendo uma cena bem esquisita surgiu a curiosidade de ler esse livro que tá sendo tão falado. Bom, de vez em quando é sempre bom sair um pouco da bolha e descobrir interesse em um livro que nem estava no radar de possíveis leituras, mas a experiência que foi ler essa grande fofoca e divagações foi sair pela tangente um tanto quanto abrupto demais.
Começo no fim
O que Sobra é a biografia do Príncipe Harry (que, sinceramente, não entendo se ele ainda é príncipe ou não) lançada no início de 2023 e que causou bastante barulho pelas coisas que ele conta no meio dessas 500 páginas. Começando no dia em que sua mãe, falecida Lady Diana, sofre o acidente em Paris que lhe custa a vida, Harry narra sua vida dividindo em três partes, um prólogo e um epílogo, passando desde o seu tempo de escola, sua graduação no exército, sua ida para a guerra do Afeganistão e seu retorno quando conhece quem viria a se tornar sua esposa.
A primeira parte, a sua vida logo após a morte da mãe e sua vida na escola até a conclusão do seu treinamento no exército, é bastante marcada pela tristeza do luto que ele sente e por um pensamento que o acompanha durante toda a vida: ele é o reserva. O fato dele ser o terceiro na linha de sucessão (naquele momento) traz prós e contras para a sua vida; enquanto William, seu irmão, é mais cobrado pelas coisas que faz por ser o herdeiro de Charles, filho da Rainha Elizabeth, Harry não é tão cobrado assim em questão de deveres oficiais e reais, entretanto, ele também é mais deixado de lado por não ter tanto “valor” quanto seu irmão. Mas não é deixado de lado pela mídia, pelo contrário…
Outro ponto que acompanha Harry desde o início e que se torna um antagonista dentro de sua própria história é a mídia britânica, famosa por ser sensacionalista, abusiva, manipuladora e intrusiva. A aversão de Harry quanto aos tabloides e revistas é ainda mais fomentado quando se entende que a culpa do falecimento de Diana recai sobre os paparazzi que a perseguiam no túnel em que aconteceu o acidente. Essa aversão não era exclusiva dele, sua mãe também a tinha já que era bastante perseguida até mesmo na rua por paparazzis que precisavam de uma foto dela em algum momento de fragilidade ou que fosse possível distorcer completamente a realidade. É até entendível a questão de Harry não acreditar que sua mãe realmente morreu e na verdade achar que ela só está fingindo para se refugiar da mídia em meio a algum lugar remoto, voltando depois para buscá-lo.
Um menino querido vai a guerra
A segunda parte já aborda a ida de Harry ao Afeganistão para lutar contra o terrorismo e aqui se encontra um dos momentos mais interessantes da narrativa, contada em primeira pessoa pelo próprio Harry: ao mesmo tempo que ele sente que está lutando contra um mal, ele também acredita que aquela guerra é culpa dos Estados Unidos. Em várias partes do livro há rápidas críticas e cutucadas aos EUA o que mostra como mesmo sendo “aliados”, as duas grandes potências ocidentais não são irmãos de coração. Assim como é a relação entre o próprio Harry e William; desde o tempo da escola, por mais que William seja protetor do seu irmão mais novo, ele se mantém distante, às vezes ultrapassando uma linha tênue que o coloca na posição de rival.
E se o leitor pensa que só porque Harry está cumprindo com o seu dever patriótico lutando contra o “mal” em alguma parte do Oriente Médio a mídia irá deixar de pegar no pé dele, é aí que ele se engana. Até mesmo a partida de Harry é adiada e reajustada por interferência da mídia britânica que espalhou aonde ele estaria, o que acabou alertando os Talibãs que juraram matá-lo na batalha. E não obstante, isso acontece duas vezes, então não importa aonde o “menino querido” esteja a mídia britânica irá atrás dele para tirar uma foto e tentar de alguma forma manchar a sua imagem já manchada por eles.
Quase um Game of Thrones
A terceira e última parte se volta para o relacionamento de Harry com a sua esposa Meghan Markle e os problemas que esse relacionamento trouxe para ambos. Ele começa contando desde a primeira vez que a viu em uma postagem feita por uma amiga em comum dos dois no Instagram e o leitor acompanha o crescimento da relação dos dois até chegar ao casamento e nascimento do primeiro filho do casal. A princípio, a família de Harry se mostra a favor do namoro dos dois, mas se percebe como essa visão vai mudando aos poucos por determinadas questões, que não são as atitudes e ações de Meghan como a mídia relata.
Essa terceira parte traz o ponto de batalha dentro da própria família que parece ser a resposta para tudo o que acontece, uma batalha de quem é mais bem visto e aprovado pela sociedade. É muito chocante ver que algo do tipo possa acontecer dentro da própria família com membros espalhando fofocas e rumores uns sobre os outros para que a aprovação diminua, mas vendo em um plano geral, não é surpreendente que aconteça.
Mais para o final do livro Harry então narra sua fuga do palácio e da própria família com a sua esposa e filho e como ele tenta se mudar para os EUA, terminando com um epílogo sobre seu retorno para a Inglaterra para o funeral de sua avó. Isso tudo é só um pequeno resumo do livro, para mais detalhes e fofocas você vai ter que ler o livro, o tamanho assusta um pouco, mas vale a pena, acredite.
Um lado, mas o verdadeiro lado?
Uma biografia, ainda mais uma autobiografia, é um lado da história que está sendo narrado, mas não necessariamente é o verdadeiro lado ou o mais verídico. Partes do que aconteceu podem ser omitidas pelo próprio autor, outras podem ser distorcidas e algumas até aumentadas, seja pelo autor ou pelo editor. No caso de O que Sobra, por mais que Harry sejam bastante aberto quanto ao que pensa, sua opiniões e detalhe as coisas que acontecem (como por exemplo na parte em que ao passar um creme de hidratação no seu pênis ele se lembre de sua mãe por ela também usar o mesmo creme quando viva), ele também deixa alguns pontos um tanto quanto vazios ou até inexistentes, como por exemplo a sua relação com Camila, mulher com quem Charles se casou após o divórcio com Diana, que aparenta ser quase inexistente ou com Kate, esposa de William, que aparece bem pouco. A presença das duas pode ser esparsa porque Harry realmente tem pouquíssimo contato com elas? Talvez, mas levando em conta o papel de ambas dentro da família real é mais provável que ele tenha só deixado de lado os momentos com elas em sua vida.
Outra questão aconteceu depois do lançamento do livro, quando um dos instrutores de Harry no exército desmentiu o que foi narrado sobre a experiência dele, dizendo que tinha sido aumentado e que em hipótese alguma aquilo teria acontecido. Não pode ser deixado de lado o fato de que o livro na verdade é escrito por um ghost writer que pode uma hora ou outra ter dado uma romantizada no negócio, mas a probabilidade de que mais notícias do tipo Fulano de Tal desmente o que Harry fala em seu livro surjam ao longo do ano é bem alta. Se tudo o que Harry conta em seu livro é verdade ou não, isso vai do leitor acreditar ou não no que ele está ali para dizer, mas para se criar uma boa opinião da situação é de bom tom que se escute os vários lado.
No entanto, uma coisa que com certeza é bastante verídica é o fato dos tabloides e da mídia britânica serem extremamente abusivos e intrusivos nas vidas das pessoas que estão recebendo o holofote. Em vários momentos Harry narra como uma revista interferiu na sua vida, seus relacionamentos, sua relação com a própria família e principalmente com a sua mãe, convencendo o leitor do fato inegável de que para conseguir uma foto eles vão até o limite, custe o que custar.
Foi uma leitura bastante interessante para eu sair da bolha de conforto em que passo boa parte do meu ano, não foi um livro que me cansou por maior que ele seja, e foi até divertida em determinadas partes. Mas não deixei de lado em momento algum de que o que estava sendo narrado ali era um lado da história que podia ter sido distorcida ou não, sem deixar de ter a mente aberta para o que ele queria falar. E aparentemente, ele queria muito falar.




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