Eu, Robô (Isaac Asimov) - Senhores e Servos tá diferente
Começo de ano é aquele período que a gente começa (ou pelo menos tenta) a planejar as coisas que deseja fazer nesse novo ano e todo aquele blá blá blá de nossos sonhos serão verdade e o futuro já começou. No entanto, todo esse processo de análise e planejamento às vezes pode acabar fazendo com que o início seja uma bagunça, que foi o que aconteceu comigo já em janeiro desse ano (o ano pode ser novo, mas o caos nunca deixa de ser), refletindo no meu ritmo de leitura e na minha própria vontade de ler: sem perceber eu já estava em uma ressaca literária e sem saber como sair dela ou se eu precisava sair.
O ponto é que eu estava em um período que não conseguia ler por mais que eu me esforçasse, por mais que eu pegasse o Kindle e abrisse o livro, simplesmente não ia e eu até me sentia mal com isso porque a lista de livros que quero ler esse ano já estava enorme e um dia sem ler era um dia sem diminuir ela. Demorei para perceber que eu não devia estar me esforçando se eu não estava no clima para ler, se eu me forçasse a passar um monte de páginas sem de fato aproveitar nada daquilo eu estaria mentindo para mim mesmo ao pensar que estava de fato lendo um livro. Tomei um tempo, maratonei um monte de séries, até que a vontade de ler voltou. E agora, como voltar a um hábito sem pegar tão pesado já de início? Para mim, o ideal são leituras rápidas e foi assim que cheguei em Eu, Robô.
Uma criatura com muitos pais
A palavra robô vem do tcheco robota, que significa servidão, e seu primeiro uso aplicado a autômatos foi na obra R.U.R., do escritor tcheco Karel Čapek (publicado no Brasil pela editora Madrepérola), em 1920. Desde então essas máquinas foram se difundindo pelo gênero da ficção científica, seja em livros, filmes ou quadrinhos, evoluindo ao longo do tempo em questão de funcionalidades e aparência, chegando então à realidade (por mais que ainda não tenhamos, por exemplo, um Visão da Marvel andando por aí). Então, em 1950, um tal de Isaac Asimov publica uma coletânea de contos que viria a se tornar mundialmente famosa por dois aspectos muito interessantes: as leis da robótica e a complexidade da profunda implementação de robôs no cotidiano humano.
Asimov é muito conhecido pela grande saga do Império Galáctico que abrange os sete livros da série da Fundação, os quatro da série dos Robôs (juntamente com Eu, Robô e alguns outros contos) e a trilogia do Império, todos esses publicados no Brasil pela editora Aleph. Não tenho muito o que falar sobre eles pois Eu, Robô foi o primeiro dessa saga que li e o segundo contato que tenho com o autor (o primeiro livro que li dele foi O Fim da Eternidade, que não entra nessa saga), mas acredito que esse tenha sido o começo ideal, mas vamos por partes.
O livro e sua construção
- 1ª Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.
- 2ª Lei: Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que entrem em conflito com a Primeira Lei.
- 3ª Lei: Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis.
Durante os nove contos, Asimov explora como essas leis podem ser interpretadas pelos humanos para que os robôs que eles estiverem comandando façam o que eles desejam e pelos próprios robôs para que cumpram com os seus objetivos. Desde robô contando mentiras para que uma pessoa não fique chateada até um robô não salvando uma pessoa porque isso impediria ele de possivelmente salvar outra no futuro, cada conto aborda de maneira única as várias interpretações dessas leis e faz o leitor pensar sobre como simplesmente programar uma coisa e jogá-la no mundo não é o bastante.
Uma maneira bastante conhecida de se contar uma história é a utilização da narrativa moldura. Nesse tipo de narrativa, uma história paralela é encaixada dentro de uma narrativa, a sua moldura, dando ainda mais profundidade para o que está sendo contado. Alguns dos casos mais famosos desse tipo de narrativa são As Mil e Uma Noites e O Decamerão. No caso da coletânea de Asimov, a psicóloga de robôs Dra. Susan Calvin é entrevistada no já tardio século XXI por um repórter que busca saber a trajetória de vida dela e como ela acompanhou a evolução dos robôs durante as décadas desde os primeiros autômatos, é então que ela começa a contar as histórias narradas nesse conto, até mesmo sendo protagonista em algumas delas.
Por mais que a maioria das histórias dessa coletânea sejam bem divertidas, interessantes ou causam uma sensação de suspense levando o leitor até o fim delas sem se cansar, elas tem também como objetivo fazer o leitor refletir não só como a humanidade pode se tornar dependente e serva de uma coisa que ela mesma criou para que a servisse. Não só essa reflexão é causada, mas também repensar os conceitos de o que é causar dano a uma pessoa, o que é mais válido em situações específicas como salvar ou não salvar uma pessoa e como uma coisa não-humana pode acabar se corrompendo ao adquirir aspectos humanos. Cada conto é singular, alguns mais empolgantes, outros menos, mas ainda assim são importantes para a criação daquele mundo que pode vir a se tornar o nosso e os pensamentos que variam entre filosóficos e aterrorizantes.
Os destaques ficam para os contos Razão, que possui uma questão existencialista fazendo claras alusões à própria natureza humana e a construção de o que é ser humano em um meio social, e O conflito evitável, abordando a história humana e como ela foi sendo modificada ao longo dos tempos, ainda mais com a implementação de robôs. Alguns eu já achei um tanto confusos por algumas questões, mas não são ruins e merecem atenção da mesma forma.
É um livro que eu recomendo tanto para quem quer uma leitura mais rápida, pois a escrita não é difícil nem truncada, ele deixa as coisas bem explicadas dentro das próprias falas dos personagens, quanto para quem quer começar a ler Asimov. Quando eu li O Fim da Eternidade achei a escrita mais densa e confusa, o que acabou me fazendo adiar por muito tempo ler um outro livro do autor, mas agora me sinto pronto até pra já começar uma sér
Bônus: um novo conto?
É um filme que diverte, ele não é tão profundo como o livro e não traz questões tão filosóficas, mas ao assistir você vê como é um filme da época, do início dos anos 2000, e isso me causou uma certa nostalgia, me deixou em uma zona de conforto que foi gostoso de assistir o filme (mesmo sendo um tanto brega). Por mais que o suspense seja bastante interessante, o que mais me prendeu na verdade foram os detalhes secundários que não foram aprofundados, por exemplo em uma cena que mostra a troca de robôs antigos por novos e como isso reflete uma sociedade consumista e desapegada a objetos; cenas como essa me fizeram pensar bem mais do que o próprio mistério na verdade, mas ainda assim é um filme interessante e que vale a pena assistir para passar o tempo.





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