Hereges e Herdeiras de Duna (Frank Herbert) - Para você, daqui a 5000 anos
Enfim cheguei nos dois últimos volumes da saga de Duna e a principal questão que ficou na minha cabeça foi: eram necessários? Essa é uma pergunta complicada de ser respondida pois deve se levar em conta vários fatores, entre eles o que o autor desejava construir e o que a história precisava para atingir o seu objetivo. Mas também se leva em conta a execução dessa construção nestes dois últimos volumes e como pode se tornar algo arrastado.
Para você, daqui a 5000 anos
Imperador Deus de Duna, o quarto volume da saga, acontece 3500 anos depois da primeira trilogia protagonizada por Paul Atreides e seu filho, Leto II, que se torna Imperador Deus e reina durante todo esse tempo. Ao final do quarto volume ele é morto e seu corpo se desfaz em trutas de areia, a fase larval dos grandes vermes, que começam um processo de desertificação em Arrakis que voltará a ser um planeta coberto de areia já que durante o reinado de Leto II o processo de terraformação é concluído e Arrakis se tornou um planeta coberto de vegetação verde. Como já disse anteriormente na respectiva resenha, Imperador Deus de Duna é um interlúdio entre as duas trilogias que compõem a saga escrita por Frank Herbert e é para a segunda trilogia composta por dois livros que iremos agora.
Hereges de Duna foi lançado em 1984 e se passa 1500 anos depois da morte de Leto II, que causou o efeito chamado de Dispersão, quando a humanidade se espalhou pela galáxia e desbravou novos mundos; no entanto, não é nesses novos mundos que a história irá focar, o que foi um tanto quanto decepcionante. Enquanto nos quatro primeiros volumes a história foca em Paul e seu descendente, sem dar tanto protagonismo para os outros núcleos, agora a narrativa irá se voltar às personagens mais interessantes e que sempre roubaram a cena quando apareceram: as Bene Gesserit. Foi bom? Não necessariamente. Já de início é apresentado as sacerdotisas, mas o problema (para mim) é que foram muitas Bene Gesserit apresentadas com nomes um tanto quanto difíceis de se lembrar (demorou um tempo até eu me acostumar), são muitas personagens novas já jogadas de uma vez no colo do leitor com um planejamento de um esquema que duraria anos, é uma carga pesada já no início do livro. Dentre as muitas, a que podemos chamar de protagonista é Odraide, uma personagem bem interessante e forte, a que joga y joga.
Não só personagens novos são introduzidos, mas Duncan Idaho volta (de novo) para a narrativa na forma de um ghola criança, agora uma parte importante do plano das Bene Gesserit. Sinceramente, achei uma jogada bem preguiçosa por parte do autor, já é a terceira vez que o personagem retorna da morte na saga e por mais que ele possa ser tratado como um personagem novo por um tempo, já que ele não tem as memórias antigas como ghola, ele volta a ser o Duncan do primeiro livro em um certo ponto da narrativa. Já uma nova personagem que surge agora é Sheeana, uma garota que surge em Rakis (antiga Arrakis) e descobre que pode controlar os vermes de areia. Porque? Recomendo ler o nome da personagem lentamente e lembrando do livro anterior…
A introdução de novos personagens significa que deixamos os Atreides para trás? Não, na verdade se você olhar direito até mesmo o nome de Odraide pode perceber como a sonoridade lembra Atreides; boa parte desses novos personagens são descendentes da Siona do quarto livro e dos inúmeros filhos dos gholas Idaho que foram criados durante o reinado de Leto II. Duna é sobre os Atreides e tudo gira em torno deles, não importa se milênios antes ou depois do primeiro livro.
Agora, um ponto complicado para mim ainda nesse quinto volume e primeiro de uma nova trilogia é a história. É um livro sem história durante boa parte, ponto. Eu tive a sensação de que os problemas que engatilham o andamento da narrativa só começaram de fato lá pelos 60 ou 75% do livro, até esse ponto foi uma longa apresentação dos personagens e um universe re-building que até se mostra importante e necessário, mas ficou extremamente maçante para mim. Ainda pela metade eu já ficava pensando “Tá, mas ele não podia ter terminado isso tudo no quarto livro? No máximo ter feito uma duologia composta pelo quarto e quinto?”. Foi um livro bem arrastado para mim até chegar mais para a última parte, que aí começou a ficar corrido; os dois últimos capítulos são tão corridos e mal contados que ficou confuso para mim de início porque uma hora Odraide estava em Rakis, em outra a superfície do planeta foi destruído, um personagem importante morre e a Irmandade das Bene Gesserit pegaram um verme de areia e colocaram em uma nave. Não foi uma boa leitura para mim, foi arrastada mesmo com uma história interessante, mas trouxe muita apresentação do universo, seja dos elementos novos ou dos que já haviam antes.
O último que não era para ser o último
E então no ano seguinte é lançado Herdeiras de Duna (originalmente Chapterhouse: Dune, algo que ficaria “Casa Capitular: Duna”, mas não entendo porque foi mudado), o segundo livro da nova trilogia, mas que infelizmente se tornou o último já que Herbert morreu antes de concluir o que seria o sétimo livro da saga. Não vou falar muito aqui da história, tanto porque não quero dar muitos spoilers quanto porque não há muito o que falar, parece até ser uma característica dessa nova trilogia, uma história que poderia ser contada em poucas páginas e que se arrasta em 500.
As Bene Gesserit se refugiaram em Casa Capitular, seu planeta base principal, e começam um processo de desertificação com a introdução do verme de areia capturado de Rakis. Enquanto isso, elas tentam se manter escondidas das Honoráveis Matres, uma irmandade parecida com as Bene Gesserit, mas com divergências políticas e de liberdade sexual. Odraide, agora Reverenda Madre Superiora, é a principal protagonista desse volume, mas também está ao lado de Miles Teg ghola (de novo o autor lança mão desse esquema de trazer o personagem morto de volta a vida) e o Duncan Idaho do livro anterior.
Enquanto um grande pró do livro anterior foi a explicação de alguns elementos desse universo, o desse último volume já são os diálogos, discursos e discussões políticas entre a Rainha Aranha, líder das Honoráveis Matres, com outras Reverendas Madres. Essas passagens são importantes não só para mostrar como cada grupo pensa, mas também para explicar a política ao leitor sem parecer uma palestrinha de um livro de não ficção; foram as passagens mais interessantes e que eu tive gosto de marcar. E diferente do livro anterior, esse eu não achei TÃO arrastado, mas ainda não tão fluído quanto outros livros da saga.
Goodbye? For now
Antes de morrer, Frank Herbert deixou anotações sobre como seria o sétimo livro da saga, que foram encontradas pelo seu filho e então nasceram Hunters e Sandworms of Dune, lançados em 2006 e 2007 respectivamente; não foram publicados (até agora) no Brasil, então só estão disponíveis em inglês. Vou ler? Sinceramente, não vejo necessidade, primeiro porque não tenho costume de ler livros em inglês, logo, seria um esforço grande gasto na leitura desses dois livros; segundo porque vi que eles possuem críticas mistas; terceiro porque realmente não tenho muito interesse de ler livros de uma saga que não foram escritos pelo autor original (a não ser que tenham sido escritos pelo Brandon Sanderson). Caso um dia eles sejam publicados no Brasil pela Aleph acho que pegaria para ler, mas por hora não sinto vontade alguma ou mesmo necessidade de continuar.
Duna foi uma saga muito interessante de ler, mesmo tendo seus altos e baixos, mas ainda assim sinto que agregou bastante na minha vida. É um universo bem criado e planejado, talvez não tão bem explorado pelo autor e com certeza tendo algumas falhas na escrita em alguns livros, mas não é sem razão que se tornou uma das grandes sagas de ficção científica lembrada até hoje. Esperava ter gostado mais desses últimos volumes, é como se o universo pensado fosse grande demais para a escrita do autor que acaba por cometer algumas falhas aqui e ali com a maneira que ele conta a história, mas ainda assim não sinto que tenham sido leituras que me fizeram perder tempo. Recomendo para quem quer ler uma grande saga que vai precisar de mais paciência e tempo? Sim, com certeza, mas deixando claro antes que não vai ser algo tão simples e fácil assim.




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