Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet - Fígaro, fígaro, fígado!
A primeira onda de livros góticos começa na Inglaterra, lá no século XVIII, com a publicação de O Castelo de Otranto de Horace Walpole e sempre foi se renovando até os dias de hoje. Se na época de Walpole os principais cenários para essa literatura eram as regiões campestres do interior com seus castelos escuros e sombrios cheio de mistérios e assombrações, essa situação teve que mudar quando a partir do século XIX a Inglaterra ia se tornando cada vez mais urbana e desenvolvida, junto com a sua literatura se mudando cada vez mais para as grandes cidades, como a efervescente, sombria e fumacenta Londres.
Paralelo a isso ocorre também uma nova onda onde a literatura se torna cada vez mais popular, e para se ajustar a isso é necessário também que as histórias sejam veiculadas em meios mais populares e baratos. A partir disso se criam então os penny bloods e penny dreadfuls, livretos de qualidade barata, o que facilitava tanto a produção em massa quanto a fácil aquisição por parte do grande público, onde eram veiculadas histórias que atendessem à grande demanda do público: histórias sensacionalistas de aventura, terror ou suspense. Considerada um tipo de “literatura barata”, os penny dreadfuls foram uma grande febre na Inglaterra vitoriana chegando a ter até 100 editoras desse material no país, entretanto uma história que ganhou o coração do público e persiste até os dias de hoje é uma das mais bizarras e mirabolantes do século XIX: Sweeney Todd, o barbeiro demoníaco da Rua Fleet.
Corto cabelo e pinto
Desagradável, feio e com uma risada que faz até bebês chorarem, Sweeney Todd, como o subtítulo do livro já diz, é um barbeiro residente da Rua Fleet em Londres no ano de 1785. A história acompanha esse pitoresco personagem a partir do ponto em que o marinheiro Thornhill, que estava procurando pela jovem Johanna Oakley para lhe entregar um colar de pérolas que foi tudo o que sobrou do seu falecido marido que morreu em alto mar (sim, são muitas camadas, mas vai piorando), entra na barbearia de Todd e desaparece misteriosamente. Claro, não é spoiler algum dizer que Sweeney é o assassino de Thornhill e que roubou o colar, mas o mistério que perdura até o final é o que de fato aconteceu com o corpo do azarado marinheiro e qual a ligação disso com o cheiro horrível que infesta a igreja local. Outro ponto da narrativa (e na minha opinião o mais bizarro) é o da loja de tortas da Mrs. Lovett, uma mulher aparentemente adorável e dona de uma famosa loja de tortas de carne que chega a vender centenas por dia, mas que guarda um segredo que se fosse revelado iria chocar e enojar a cidade inteira por anos.
Essa história tem de tudo: um barbeiro sanguinário, tortas feitas com carne humana, um hospício sombrio comandado por um médico doido que abusa daqueles de quem ele deveria cuidar, mistério sobre o desaparecimento de uma pessoa amada e para fechar com chave de ouro, um final romântico. Outro ponto muito interessante dessa narrativa é como ela é extremamente pitoresca, dramática e visual, cada cena é como se o leitor estivesse vendo ela sendo interpretada em um peça teatral, os personagens sempre pensam em voz alta e coisas absurdas acontecem o tempo todo, não dá para levar a sério em momento algum. E tá tudo bem com isso! Não é o tipo de livro que o leitor leva a sério o que está acontecendo, é um livro para se divertir e passar o tempo, para se preocupar com aqueles personagens pouco desenvolvidos, para sentir tensão e depois relaxar e depois sentir tensão de novo porque as coisas só vão ser resolvidas de fato lá no último capítulo, mas não é arrastado em momento algum. É um “romance barato”? Sim, é, mas ele perdura até os dias de hoje justamente por isso, por ser um livro simples que envolve o leitor completamente.
❧ Sweeney Todd: O barbeiro demoníaco da Rua Fleet (publicado originalmente entre 1846 e 1847)
❧ Não especificado durante a publicação
❧ 320 páginas
❧ Editora Wish
❧ Tradução de Carolina Caires Coelho
❧ ★★★★






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