Assassinos de Anúbis (Everton Gullar) - Faroeste não mais caboclo


Não sou muito de ler livros de ação, raras vezes isso acontece (o último que eu me lembro de ter lido desse gênero foi a trilogia Killing Eve), mas dessa vez o próprio autor me convidou a fazer essa leitura e, depois de ter lido a sinopse, não pude recusar essa proposta.

Faroeste urbano

Assassinos de Anúbis é o primeiro livro da Trilogia Capital, já publicada e disponível na Amazon, e, para ser sincero, tive que ler a sinopse três vezes para tentar entender sobre o que o livro iria tratar, mas poucas linhas para chamar um leitor não faz justiça ao tanto de conteúdo que essa história traz. Tendo três núcleos de personagens que irão se juntar ao final da história, o livro começa com Safir, um homem amargurado que está morrendo de câncer, tendo poucos meses de vida e com pouquíssimas chances de sobreviver. Com esse destino selado, Safir decide não lutar e só aceita que irá morrer, então começa a preparar o terreno para que tudo esteja no lugar quando ele não estiver mais neste plano terreno… mas será que um destino é mesmo inalterável?

Quando enfim chega o momento de sua partida, Safir é salvo e recebe uma outra chance de continuar lutando, mas como ele pode querer continuar vivendo em um mundo cruel, sádico, onde tudo gira em torno do dinheiro? É então que ele conhece o doutor Lauro, presidente do Hospital de Transplante do Estado, e que lhe faz uma proposta: abandonar a sua vida passada e dali em diante servir aos Assassinos de Anúbis, uma sociedade secreta que tenta melhorar o país ao executar políticos e empresários corruptos, depois pegar seus órgãos para transplantes necessários no hospital. É assim que Everton apresenta ao leitor o mundo que ele quer retratar, um mundo sujo e cruel, mas com uma luz no fim do túnel, mesmo que essa luz tenha respingos de sangue.

Além da história de Safir, há ainda mais duas partes onde outros dois integrantes dos Assassinos de Anúbis serão apresentados, seus motivos para ingressarem na sociedade secreta e seus dramas pessoais. São personagens complexos, que não são heróis ou vilões pois ficam naquela área cinzenta do anti-herói que logo chama a atenção de qualquer leitor, entretanto, o melhor ponto desses personagens é como cada um é único, tendo o seu modo de contar a própria história, sem parecer o repeteco de uma fórmula. O país que Gullar apresenta nesse livro é claramente uma representação do Brasil, desde as suas desigualdades sociais até a quantidade de políticos corruptos que só pioram a situação já complicada do país, mas os nomes dos estados são alterados (o que eu não gostei muito, mas é uma coisa pessoal, não é uma coisa que faça muita diferença na hora da leitura).

Enquanto eu lia esse livro (muito rápido de ler, terminei em uma manhã de domingo) ficava pensando sobre a estética literária atual: na escola aprendemos sobre as estéticas literárias com as suas grandes obras representativas, desde o romantismo de Joaquim Manuel de Macedo até os modernismos do século XX, mas atualmente convivemos com a literatura contemporânea, uma literatura que reflete por meio da escrita os problemas sociais e estruturais presentes em nosso cotidiano, desde os problemas políticos até os de gênero e sexualidade. Assassinos de Anúbis é um livro que representa bem o sentimento do indivíduo em meio a esse caos que o país se encontra, mas, desde o acontecimento infeliz que aconteceu em 2018 e que perdurou pelos quatro anos seguintes, esse sentimento se torna ainda mais significativo. Claro, não devemos considerar que assassinatos é o melhor jeito de resolver essa situação, mas levando em conta as tragédias e descasos que aconteceram nos últimos anos, não é chocante ver esse sentimento de revolta que é o principal combustível dos personagens de Gullar.

Como eu disse anteriormente, não leio muito livro de ação e a justificativa para isso é que eles não funcionam muito bem comigo por ser um gênero que desceria melhor para mim em algo visual, seja um filme ou uma graphic novel, e não foi diferente com esse livro. As cenas de ação, os cenários, tudo isso na minha cabeça funcionaria melhor em uma série ou em uma graphic novel com aquele traço que brinca entre os tons claros e escuros dependendo da situação, mas sei que adaptando para uma dessas duas mídias acabaria se perdendo muito da mente dos personagens e de como eles chegam ao estado em que estão. Ainda assim, foi uma leitura rápida de ler e muito interessante, é um livro dinâmico que te deixa curioso sobre o que vai acontecer nas partes seguintes e que funciona muito bem para quem gosta desse gênero. Traz críticas sociais válidas que trabalham muito bem com essa narrativa frenética, que mantém o leitor prendendo o fôlego em várias partes, se envolvendo com aqueles personagens, se importando com o que irá acontecer com eles e as mortes que acontecem no meio do caminho. Devo agradecer ao autor por ter me convidado a fazer essa leitura e também por ter visto esse perfil, é uma conta pequena, então isso significa bastante para mim. Valeu, Everton! Além disso, a trilogia está atualmente disponível no Kindle Unlimited, então vão lá apoiar um autor nacional!


❧ Assassinos de Anúbis (publicado originalmente em 2019)

❧ Everton Gullar

❧ 188 páginas

❧ 4★

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