Odeio te Amar (Ali Hazelwood) - Se odeiam, mas nem tanto

Ali Hazelwood ficou mundialmente conhecida com A Hipótese do Amor, um grande sucesso de vendas e que foi muito impulsionado aqui no Brasil pelo TikTok, mas ela não é uma one-hit-wonder. Em 2022 ela começou a publicar uma série de três novelas interligadas compiladas depois em um livro, Odeio te Amar, já publicado por aqui pela editora Arqueiro.

Misturando enemies to lovers com STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática), nessas três novelas o leitor acompanha um grupo de três amigas que após o doutorado tentam ingressar e crescer nos ramos em que escolheram para a sua vida. Entretanto, no meio desse caminho elas vão acabar se deparando com alguns caras que a primeira vista só parecem ter surgido para atrapalharem suas respectivas vidas e carreiras, mas até o final (e isso não é spoiler, é muito óbvio que eles vão ficar juntos) vão se mostrar o amor de suas vidas. A primeira, Sob o Mesmo Teto, eu li assim que foi lançado no Brasil e já foi resenhado aqui, então vamos falar agora sobre as outras duas.

Presa com Você e um quê de quero mais



Sadie é uma engenheira civil que trabalha em uma pequena empresa de Nova York com foco em tornar os projetos dos seus clientes mais sustentáveis e amigáveis ao meio ambiente. Baixinha, ansiosa e supersticiosa, em um dia qualquer quando ela vai para a cafeteria de sempre comprar um croissant (que com certeza não vale o preço que custa) ela se depara com Erik: alto, bonito, um deus nórdico (não dá pra negar que eu via ele como um dos irmãos Skarsgård). E nesse mesmo dia, após uma longa conversa engraçada e aleatória, eles decidem marcar um encontro para aquela noite, o que culmina em uma cena hot que, sou obrigado a dizer, foi bem escrita. No dia seguinte Sadie descobre que Erik é na verdade um dos sócios de uma grande empresa rival que acabou de roubar os clientes os quais ela tentava conseguir para a sua própria empresa, e pior ainda, utilizando o mesmo projeto que ela utilizou no dia anterior. Desde então, Sadie ignora todas as mensagem e ligações de Erik, mas quando ela fica presa no mesmo elevador que ele fica um pouco impossível ignorar aquela enorme (huuuuge) presença.

Essa foi uma novela que eu gostei de ler porque Hazelwood constrói a narrativa alternando entre o momento que Sadie conhece Erik na cafeteria e o momento em que ambos ficam presos no elevador, deixando claro que aconteceu algo entre eles o que fez Sadie não retornar as tentativas de contato de Erik, mas isso só é revelado para o leitor mais para o final da história. Ela cria um certo mistério que envolve o leitor para fazer com que ele não largue a história até saber o que aconteceu, até descobrir o porquê daquele casal que parece tão perfeito não ter seguido em frente. Sadie é uma protagonista engraçada (acho que não tanto quanto Mara de Sob o Mesmo Teto, mas isso também é bem difícil) e Erik é muito atraente, o que é estranho de se dizer porque ele é só um personagem que não teve muito da sua história contada, que aliás é uma reclamação minha sobre essa história: Erik aparenta ser muito legal e dá vontade de querer saber mais sobre ele, um livro maior mesmo, mas infelizmente ele não é tão aprofundado assim e fica um personagem raso. Fora isso, é um livro muito legal de ler e acho que foi o meu favorito dos três.

Abaixo de Zero e das expectativas

Hannah é uma engenheira da NASA que lutou muito para chegar até a posição em que ela se encontra, batalhando contra o machismo do meio e da academia, mas quando se fala da sua vida pessoal uma coisa fica bem clara: ela não se envolve, não sai pra encontros e nem namora namora, só casual. Quando ainda estava no doutorado (onde conheceu Mara e Sadie) ela teve que entrevistar alguém para um trabalho e o escolhido foi Ian, um primo meio distante de Mara e que também trabalha na NASA. Após uma rápida entrevista, Hannah se convida para ir até o escritório de Ian e lá, após ajudar com algumas coisas do trabalho do ruivo, eles simplesmente transam de uma hora pra outra, mas que tem um final um tanto quanto decepcionante quando Ian convida Hannah para jantar e ela recusa. Anos depois, após ela conseguir uma vaga em um projeto de pesquisa na NASA, ela reencontra Ian, mas não se reaproxima muito, mesmo tendo interesse… por um tempo já que quando ele rejeita o projeto que ela criou para melhorar um rover que seria mandado para Marte, Ian se torna o foco de toda a raiva de Hannah. Mesmo assim, ela consegue um auxílio da faculdade e é mandada para o Ártico onde acaba ficando presa e precisa ser resgatada por ninguém mais ninguém menos que o cara que ela mais odeia no mundo.

Essa foi a novela que eu achei mais interessante e a mais mal desenvolvida. Primeiro que é muito legal que Hannah seja a personagem que mais tenha do seu passado contado entre as três protagonistas das novelas: ela é bem construída, sua característica de não se apegar é um diferencial que a torna diferente de outras personagens dos livros de Hazelwood e é a primeira protagonista LGBT+! Não lembro de ficar explícito se ela é bissexual ou pansexual, mas é dito pela própria que ela se relaciona com homens e mulheres. Mas dois pontos me incomodaram bastante nessa história: a maneira como ela é contada e o fato simplesmente jogado de que o pai de Ian era traficante de drogas e o filho o acompanhava quando pequeno. Primeiro, tenho que reforçar que é bom que Hannah tenha seu passado contado, mas para o formato de uma novela acaba ficando maçante, a história demora demais para começar e eu já estava ficando impaciente. A estrutura de Abaixo de Zero não é das melhores, tanto para contar a história que ela se propõe quanto para o formato que foi escolhido para contar. E o segundo ponto, é MUITO aleatório o fato do pai do Ian ter sido traficante de drogas e isso ser uma coisa importante do passado do personagem, mas não é uma coisa tratada depois disso ter sido jogado no colo do leitor, é só ???????. Foi a novela que eu menos gostei das três e sinto dizer que realmente me decepcionou bastante.

Nova autora favorita?

Devo confessar que eu tinha muito medo de como ia ser ler essas três histórias, eu adorei A Hipótese do Amor, mas alguns pontos me incomodaram bastante naquela história em questão de estrutura e narrativa. Quando decidi dar uma chance para Sob o Mesmo Teto não me arrependi, foi uma história muito engraçada, mas que repetia alguns problemas do primeiro romance da autora o que me deixou com uma pulga atrás da orelha se ela repetiria tudo isso nas outras duas histórias. Mas sendo novelas rápidas de ler, divertidas, que li em um dia, acabei dando uma chance para essas duas e agora tenho vontade de ler tudo o que essa mulher publicar.

Os livros dela tem alguns problemas? Sim. Acho muito aleatória algumas coisas, especialmente o fato dos mocinhos de Presa com Você e Abaixo de Zero se apaixonarem à primeira vista? Com toda a certeza. Mas afinal, porque eu iria ler um livro sobre caras imperfeitos e não idealizados, não é mesmo? Hazelwood traz ótimos temas e problemáticas sobre as áreas em que as protagonistas atuam, o machismo das academias e empresas de ciências e tecnologias, ela sabe trazer isso de uma forma que envolve o leitor, mas ela também traz histórias clichês e engraçadas (com cenas hots que às vezes ainda me deixa um pouco chocado) que são rápidas de ler, por mais que tenha momentos estressantes porque a protagonista não vê o que tá debaixo do nariz dela. Tenho andado meio cansado de ler livros literários e com temas pesados, quero coisas leves e jovens que não me façam pensar demais, só me divirta e me deixe feliz, e Ali Hazelwood é perfeita para esses momentos. Inclusive, já terminei de ler A Razão do Amor, então vem resenha por aí.


❧ Presa com Você & Abaixo de Zero (publicados originalmente em 2022)

❧ Ali Hazelwood

❧ 136 e 148 páginas

❧ Editora Arqueiro

❧ Tradução de Roberta Clapp

❧ 4★ e 3★

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