O Exorcismo da Minha Melhor Amiga (Grady Hendrix) - Miga, sua louca

 


Desde que foi anunciado no Brasil, e isso já faz alguns anos, O Exorcismo da Minha Melhor Amiga estava na minha lista de “quero ler” do Skoob, mas nunca entendi porque demorei tanto para pegar ele pra ler. Talvez com medo de que fosse ruim? Provavelmente, até porque as chances de que fosse uma perca de tempo eram bem altas. Bom, quando finalmente comecei a ler não consegui parar e terminei ele no mesmo dia, então acho que meu receio estava mal colocado.

Exorcizamus te…

Se passando durante a década de 1980, o (infelizmente e esperemos que por enquanto) único livro de Grady Hendrix publicado aqui no Brasil conta a história de uma amizade tão forte que é capaz até mesmo de exorcizar demônios, literais ou não. Abby e Gretchen se conhecem desde pequenas, quando uma foi mandada contra a própria vontade para a festa temática de E.T.: O Extraterrestre da outra, sendo a única criança da escola que foi. Abby é mais desajustada, problemas com acne no rosto que ela resolve com maquiagem, família com dificuldades financeiras e com certeza está longe de ser uma das garotas populares do colégio; enquanto isso, Gretchen é rica, pele perfeita, popular e muito, muito amiga de Abby. Como essa relação se mostra inquebrável ao longo dos anos, Abby acaba por andar com outras garotas populares também, junto com Gretchen, o que me lembrou muito uma dinâmica de Heathers: três garotas que comandam o colégio e adotam a desajustada, tornando ela também popular, mas que com certeza não está no mesmo nível que as Heathers.

Em um dia comum de verão, as quatro amigas, Abby, Gretchen, Margaret (mais rica e mais popular, mas também a que mais se afeta com as coisas que são ditas e com a própria imagem) e Glee (apaixonada pelo professor de educação cívica, um padre [FLEABAG, CORRE AQUI]), vão passar um dia em uma das propriedades da família da terceira. E é aí que a desgraça acontece. Após as meninas ingerirem LSD (adolescente só faz merda, não importa a década), Gretchen decide dar um mergulho no lago e some por algumas horas, só sendo encontrada pelas amigas já desesperadas algumas horas depois, bastante abalada com algo que lhe aconteceu, mas que não é contado pela garota. Na escola, durante os dias seguintes a esse acontecimento, Gretchen começa a agir de uma forma estranha, como se estivesse doente, e vai piorando até chegar em um ponto que ninguém mais aguenta chegar perto dela só por causa do cheiro. A partir daqui não vou mais contar o que acontece, leia o livro e descubra porque, acredite, vale muito a pena.

Dias de um passado lembrado e relembrado

Analisando as produções, audiovisuais ou não, desde a década passada se percebe que houve um notável aumento de filmes, livros e séries que buscam retratar de maneira nostálgica as décadas de 1980 e 1990. Claro, não dá para negar que isso sempre aconteceu na cultura, essa nostalgia dos “anos da infância”, mas a partir do lançamento da primeira temporada de Stranger Things, lá em 2016 (é, faz mó tempo), se viu um grande aumento dessas produções mais nostálgicas que buscavam justamente se tornarem um grande sucesso e um dos melhores exemplos disso foi It: A Coisa de 2017. Entretanto, um ponto que precisa ser dito acerca dessas obras é como as problemáticas sociais não entram em primeiro plano, as questões raciais, econômicas e políticas são detalhes não aprofundados nesses filmes e séries, mas Hendrix trouxe isso com grande força em O Exorcismo da Minha Melhor Amiga.

Grady sabe situar muito bem o livro no tempo em que ele se passa, desde os filmes que são lançados durante a narrativa e as músicas que as personagens escutam até a situação econômica do país e as questões de preconceito que eram e ainda são extremamente fortes no sul dos Estados Unidos. Essas coisas são pequenos detalhes, frases que não são tão importantes assim para o ponto principal da narrativa que aqui no livro é a possessão de Gretchen, mas são frases importantes para situar o leitor em um tempo e lugar onde ele não está nem conviveu. Além disso, as questões adolescentes, como a primeira paixão ou problemas de imagem, se mostram tão atuais e importantes de serem discutidas que nos faz questionar como mesmo quarenta anos depois algumas coisas ainda precisam ser melhor discutidas.

A amizade de Abby e Gretchen foi uma das mais reais que eu já vi em um livro: brigas acontecem, às vezes o tempo acaba diminuindo o ritmo da conversa porque, enfim, a vida de cada uma em um estado diferente acontece e tá tudo bem com isso. O ponto é que elas não deixam de lado essa ligação que tem, uma ligação que tão dourada e forte que relacionamentos amorosos não conseguem substituir. Como já diria Taylor Swift, it’s nice to have a friend.

E para finalizar: o filme. É. É um filme. Foi feito(infelizmente.

Assim, na verdade eu não achei tão ruim assim, ele parece aquele tipo de filme que você deixa rodando enquanto não tá fazendo nada, além disso os visuais, cenários, é um filme bem produzido. Só é completamente esquecível, do mesmo jeito que ele não é ruim, ele também não é bom. O livro narra bastante tempo, tanto do passado das personagens quanto do momento da possessão, é uma narrativa que acontece bastante coisa o que deixa o livro até um pouco frenético, mas o filme resumiu demais e corta muita coisa do aprofundamento. Portanto, caso queira ter contato com a história, recomendo só o livro mesmo, o filme só se você tiver tempo e curiosidade.

Espero muito que os outros livros do autor sejam publicados aqui no Brasil, esse foi um livro que me conquistou do início ao fim, sem achar maçante ou chato em parte alguma. Além desse, Hendrix também publicou alguns outros livros que envolvem um pouco de comédia com um estilo de terror nostálgico que nos faz lembrar de filmes do século XX, como os slashers no caso de The Final Girl Support Group, e casas mal assombradas como o clássico Amityville (amo esse livro aliás) no caso de How to Sell a Haunted House. Realmente torço muito para que ele seja mais publicado aqui no Brasil, caso não, bom, pelo menos é mais um motivo para eu estudar mais inglês.


❧ O Exorcismo da Minha Melhor Amiga (publicado originalmente em 2016)

❧ Grady Hendrix

❧ 352 páginas

❧ Editora Intrínseca

❧ Tradução de Edmundo Barreiros

❧ 4,5★

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