Mundo em Caos (Patrick Ness)
❧ Mundo em Caos (publicado originalmente em 2008)
❧ A Pergunta e a Resposta (publicado originalmente em 2009)
❧ Patrick Ness
❧ 480 e 528 páginas
❧ Editora Intrínseca
❧ Tradução de Edmundo Barreiros
❧ 5 e 4,5 ★
Muito barulho por quase tudo
Quem tem Twitter entende como funciona: a pessoa coloca seus pensamentos aleatórios lá, opiniões (que ninguém pediu), entre outros, podendo ser visto por qualquer um ou só pelas pessoas que te seguem caso a conta seja privada. No entanto, ou pelo menos deveria ser, normalmente as pessoas tem um certo filtro sobre o que vão escrever lá, não escrevem tudo o que pensam. Mas e se não fosse assim? E se todos os seus pensamentos estivessem públicos para quem estivesse perto de você, podendo até mesmo ser visto?
Essa é a principal premissa de Mundo em Caos, primeiro livro dessa famosa trilogia de Patrick Ness que aqui no Brasil ficou com o mesmo nome do primeiro volume.
Personagens burros e afins
Primeiro é preciso avisar que eu vou contar spoilers a partir do segundo parágrafo, então se continuar lendo, esteja avisado! É complicado falar sobre essa história sem contar spoilers porque em todo o momento acontecem reviravoltas que vão contra tudo aquilo que o protagonista acreditava. A história se passa no chamado Novo Mundo e é protagonizada por Todd Hewitt, o único garoto do pequeno e único vilarejo desse planeta, Prentisstown. Essa vila é povoada somente por homens já que todas as mulheres foram mortas por um vírus lançado pelos Spackle, a espécie nativa do Novo Mundo que entrou em guerra com os humanos, e, além desse genocídio, outro efeito colateral do vírus foi o Ruído, um tipo de “doença” que deixa os pensamentos de todo mundo visíveis e audíveis para quem estiver por perto. Todd ainda não é considerado homem por só ter treze anos, mas quando completar quatorze ele será considerado de fato homem como todos os outros do vilarejo. Esse é o início de Mundo em Caos, muita coisa, sim, mas que o leitor já pega logo de início e vai entendendo a situação desse lugar, a vivência dos outros moradores e como essa micro sociedade funciona a medida que Todd vai narrando sua história. Mas isso não vai durar muito tempo.
Quando certo dia Todd estava caminhando pelo pântano perto de Prentisstown, ele encontra algo que parece impossível para a sua mente compreender: uma garota. Uma garota bonita. Quando isso chega aos ouvidos do prefeito, um homem misterioso cercado por seu círculo pessoal, uma caçada começa e Todd terá que fugir junto com essa garota misteriosa que aparentemente caiu do espaço e que não fala nem emite Ruído. Tudo isso em menos de cem páginas, é um livro com um ritmo muito rápido e direto ao ponto, o autor não demora para situar o leitor naquele universo pois vai explicando todos os pontos necessários para entender a medida que a história vai caminhando. Mas ao mesmo tempo ele apaga o que Todd pensava que era verdade e mostra que a situação é outra completamente diferente. Após fugir com a garota, que depois ele descobre se chamar Viola, e seu cãozinho Manchee ele deve partir para um outro vilarejo, o que já vai contra o que Todd pensava sobre Prentisstown ser a única colônia humana que restava naquele planeta, e pior ainda: existem mulheres nesse lugar. O vírus ter matado todas as mulheres de Novo Mundo era uma mentira contada por David Prentiss, prefeito de Prentisstown, para esconder das crianças o que na verdade aconteceu no passado da colônia; na verdade, não houve vírus nenhum e o Ruído é causado pela própria atmosfera do planeta, planeta esse que estava sendo visado pelos humanos para ser um novo lar já que a situação na Terra estava se tornando insustentável.
Todo esse futuro distópico criado pelo autor é incrível e cheio de segredos que vão sendo revelados ao leitor aos poucos, instigando cada vez mais a leitura o que me fizeram terminar o livro em poucos dias, mesmo tendo quase 500 páginas. A narração de Todd, em conjunto com todos os seus pensamentos que também são visíveis para Viola, deixam a leitura ainda mais rápida, dinâmica, fluida, é um livro que imerge o leitor dentro de uma história cheia de ação e andanças (muita, muita andança). Mas esse tipo de livro, com jovens salvando o mundo e sofrendo mais que a Juliette, me incomodam demais porque normalmente esses personagens são jovens demais. Todd só tem treze anos e já comete assassinato e passa por tudo que é narrado nesse primeiro livro, tudo bem que a sua criação não foi a mesma de uma pessoa comum, mas eu simplesmente não aceito que personagens tão jovens sejam tão maduros assim. Além disso, Todd, até certo ponto da história, não pensa direito em nada. Na cena em que ele encontra o Spackle (quem leu sabe bem que cena é essa) eu só ficava me perguntando porque ele estava fazendo aquilo, simplesmente não tinha sentido ainda mais com o que tinha acabado de acontecer. E por fim, o romance: precisava? Para mim, Todd e Viola não tinham a menor química, funcionavam muito melhor como amigos de verdade do que esse casal de amigos que sentem coisas profundas um pelo outro.
Tirando tudo isso em relação ao protagonista, foi um livro incrível e que eu não esperava gostar tanto. Uma história completamente imersiva, não somente pela sua narração, mas também pela própria diagramação extremamente caprichada por parte da editora, eu surtei em vários momentos, fiquei tenso e só queria saber aonde iria dar. Mas quando chegou naquele final, que não é um final de verdade e sim um gancho direto para o próximo livro, precisei pegar a sequência na hora para ler. E a partir daqui vou começar a contar sobre A Pergunta e a Resposta, então cuidado com mais spoilers!
O que c*ralhos aconteceu aqui
O segundo livro da trilogia começa logo onde o primeiro termina, com Todd e Viola chegando em Refúgio e sendo recebidos pelo prefeito Prentiss que eles logo descobrem agora se intitular presidente de Novo Mundo, sendo Refúgio a sua capital que ele controla com mão de aço. Agora a dinâmica da sociedade é separar homens e mulheres, já que Prentiss não confia nelas pelo Ruído funcionar de forma diferente, onde elas podem ler o Ruído de qualquer um, mas os pensamentos delas não podem ser lidos como o dos homens. Para lutar contra essa discriminação, ressurge uma facção que transita entre a rebelião e o terrorismo, a Resposta, formado principalmente por mulheres e que tentam (de maneiras um tanto quanto duvidosas) derrubar o governo tirânico de David Prentiss.
Com Todd e Viola estando separados durante quase toda a narrativa, seus caminhos e pensamentos acabam indo por lados contrários ainda mais por causa das situações onde cada um se encontra, com Todd sendo vigiado de perto por Prentiss e obrigado a trabalhar em um campo de concentração de Spackles que, obviamente, não lidam bem com Todd, mesmo com ele achando que está tentando amenizar a situação deplorável deles; enquanto isso, Viola foi agregada à Resposta, contra a própria vontade mesmo não concordando com todas as atitudes do grupo, mas aceita a sua situação e tenta lutar contra a tirania fascista que agora controla Refúgio. O problema do romance entre Todd e Viola se aprofunda nesse segundo livro e chega até a piorar já que um terceiro elemento entra de penetra nessa história, por isso acabei tirando meia estrela na nota desse livro. Mas acho que é o único ponto negativo que consigo falar dessa história já que de resto ela melhora ainda mais os pontos positivos do livro anterior e me fizeram surtar ainda mais; o final, que assim como o do primeiro livro não é um final de verdade e sim um gancho para o terceiro volume, me deixou louco para lê-lo o mais breve possível, mas levando em consideração que ele ainda está muito caro na Amazon, essa leitura vai ter que esperar um pouco. Outro ponto positivo dessas edições maravilhosas da Intrínseca é que cada volume conta ainda com um conto do autor que expande ainda mais esse universo incrível de Patrick Ness.
A BUNDA DO TOM HOLLAND
Caso queira uma ficção científica distópica que vai te fazer surtar, comece essa trilogia, juro que não vai se arrepender. Além disso, o primeiro livro foi adaptado para os cinemas, intitulado como Mundo em Caos (só um detalhe é que o título original do primeiro livro não é Chaos Walking [Mundo em Caos], mas sim The Knife of Never Letting Go [algo como A Faca de Nunca Largar de acordo com o Google Tradutor]) e protagonizado por Tom Holland como Todd Hewitt e Daisy Ridley como Viola, contando ainda com Nick Jonas e Mads Mikkelsen no elenco. Antes de assistir eu já sabia que o filme tinha muitas críticas negativas, tanto por parte do público quanto pela crítica, então fiquei bem cético quando comecei a assistir, mas eis que me surpreendi quando vi que estava gostando. A adaptação muda várias coisas em relação à forma que os acontecimentos se sucedem no livro, sendo algo mais ação e confronto ao invés da fuga e andança do livro, além do final ser completamente diferente do livro, levando uma possível sequência por caminhos completamente opostos da trilogia de livros. A maneira como o Ruído foi mostrado no filme foi algo que eu gostei bastante pois não era como eu via no livro, na verdade eu não conseguia nem imaginar como seria no livro, mas esse efeito foi um elemento mais que bem vindo para mim; além disso, Todd nessa versão é claramente mais velho, o que já resolve o principal problema que o livro tinha para mim. Mas agora o ponto mais importante: o quão gostoso o Tom Holland estava nesse filme. Tem como eu não gostar de um filme que tem a bunda do Tom Holland? Não tem, cara! Mas um aviso quanto ao filme que deve ser feito (e que eu achei completamente desnecessário) é que animais morrem durante a história, o Manchee (assim como no livro) é assassinado e é uma cena horrível, tanto de assistir quanto de ler, então se você tem problema com isso, com certeza eu não recomendo esse filme.




Comentários
Postar um comentário