A Herança de Orquídea Divina (Zoraida Córdova) - YO SOY LATINA!


É muito louco quando você escuta falarem tanto de um livro, e escuta e escuta em todo canto e parece que você já conhece a história sem nem mesmo ter lido de fato, mas aí quando enfim você pega para ler vê que a história não é nada daquilo que você pensava. Foi exatamente isso que aconteceu comigo com a leitura de A Herança de Orquídea Divina, de Zoraida Córdova (sei, tô bem atrasado nessa leitura, mas veio aí).

Essa família é muito unida

Me lembro de que mesmo antes de ser lançado aqui no Brasil esse livro já era um hit no TikTok e booktube, todo mundo estava falando dele e a premissa já estava tão enraizada na minha cabeça que parecia que eu não precisava mais ler o livro para saber o que iria acontecer. Inclusive, acredito que esse tenha sido um dos motivos para eu ter demorado três anos para ler ele. Mas, nossa, como eu tava enganado…

A sinopse é simples e acredito que já seja de conhecimento geral, mas só recapitulando: Orquídea Divina é a matriarca da família Montoya e certo dia ela convoca todos os seus descentes espalhados pelos Estados Unidos para voltarem à mansão da família Montoya, localizada em uma cidadezinha pequena no interior dos EUA, para reivindicarem a sua parte da herança já que ela está morrendo; o próprio livro já abre com o convite dessa convocação, então desde o início ele já espanta o leitor. Acredito que um dos motivos para esse livro ter sido o sucesso que foi com certeza é essa premissa, por si só ela já chama a atenção do leitor, é tão inesperado e inusitado que quase chega a ser engraçado, e eu pensei que seria um livro leve e divertido. E foi aí que eu errei.

Sendo narrada em duas linhas temporais, uma no passado, contando aos poucos a vida misteriosa de Orquídea Montoya no Equador, antes de emigrar para os Estados Unidos, e como ela fugiu para o circo, e outra no presente, onde o leitor acompanha a reunião da família Montoya e tudo o que aconteceu depois (que não foi pouca coisa, teve mais confusão do que as reuniões de fim de ano da minha família). No presente temos foco em três membros da família: Marimar, uma jovem que após a morte da mãe vai para Nova York tentar começar uma nova vida lá e tentando fugir do misticismo e acontecimentos fantásticos e inexplicáveis que rondam a sua família; Rey, um jovem gay que também vai para Nova York e vive junto com Marimar, sua prima; e Tatinelly, que se afasta de sua família após se casar com Michael Sullivan, chegando até mesmo a usar o sobrenome dele ao invés do seu sobrenome de solteira. Como eu disse, a linha do presente tem como foco esses três personagens, mas infelizmente são só eles que tem suas histórias contadas e eu queria muito que mais dos outros membros da família também fosse mostrado. Isso não é um defeito do livro, afinal ainda acontece muita coisa mesmo acompanhando eles três mais o passado de Orquídea, mas ficou aquele gosto de quero mais.

Não só a premissa me deu a ideia de que seria um livro leve e animado, todo o contexto também de ser uma família de descendentes latino americanos já acendeu na minha cabeça a ideia de que seria um livro que iria festejar essa cultura que tão poucas vezes é retratada da maneira como deve ser, ainda mais em produtos midiáticos vindos dos EUA. Mas não é esse o objetivo dessa história, ela não quer ensinar ao leitor sobre a cultura de equatorianos ou divertir quem lê com cenas engraçadas que misturam família e acontecimentos fantásticos tratados com naturalidade, não. Essa é a história de uma família com problemas, rachada, que possuem conflitos internos, que guardam segredos cruciais como por exemplo quem é o pai de Marimar; é uma história densa, delicada e contada com uma escrita maravilhosamente linda, mas que não foi leve de ler ou rápida porque não era isso que o livro me pedia. É uma história emocionante e comovente que ensina que, por mais que todas as famílias tenham problemas, seus defeitos e por vezes você queira realmente ficar o mais longe o possível delas, ainda é a sua família. Isso significa que Córdova romantiza e idealiza a família como aquela instituição que vai sempre te apoiar em todas as suas decisões e por você ser quem você é? Com certeza não, Marimar não gosta de todos os membros da sua família e ela sabe que tá tudo bem com isso, mas eles não deixam de ser sua família. Entretanto, existe família e família, essa última sempre estando do seu lado e te apoiando, e é sobre essa família que Córdova busca contar a história.

Don’t go yet…


Foi um livro incrível, cheio de emoção e reviravoltas que eu não esperava, além de todo um mistério e aspectos fantásticos que me encantaram. Não gostei de algumas coisas aqui e ali, algumas cenas que me pareceram meio confusas, outros acontecimentos que eu esperava terem sido contados e não foram, mas ainda assim é um livro incrível e que eu recomendo demais, não vejo a hora de Zoraida publicar mais livros (inclusive, sei que ela trabalhou em alguns de Star Wars, então já estão no topo da lista de leitura). Foi um livro também que me lembrou muito de A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende, uma das leituras mais incríveis que já fiz (e que já foi resenhado aqui), então ler A Herança de Orquídea Divina me deixou mais animado ainda para a leitura de dois livros de Allende que tenho aqui em casa e que serão lidos em breve: Filha da Fortuna e A Ilha sob o Mar. Portanto, fica também feita a recomendação de A Casa dos Espíritos, onde Allende conta a história do Chile no século XX por meio de três gerações familiares, chegando até a ditadura militar que assombrou o país e ainda deixa as suas marcas até hoje.


Para ter uma experiência mais completa sobre o tema, também assisti a um outro hit que foi mais ou menos na mesma época da publicação de Orquídea Divina, Encanto. Normalmente, quando estão falando demais sobre uma coisa, eu postergo assistir/ler essa coisa, e foi por isso que demorou tanto para eu ver Encanto, é besteira, eu sei, mas é uma coisa minha desde criança, às vezes me priva de ver uma coisa boa, mas não é algo que eu pretenda mudar em breve. Assisti a esse filme depois de ler o livro e para mim é como se os dois se complementassem de alguma maneira: eles abordam o mesmo tema, uma família que possui muitos problemas, mas que é rodeada de magia e acontecimentos inexplicáveis numa história exemplar de realismo mágico. Gostei bastante do filme, tirando as partes musicais (questão de gosto pessoal mesmo), só achei a resolução no final um pouco simples demais, delicada e bonita, mas simples.

E para finalizar, fica feita também a recomendação do terceiro álbum de Camila Cabello, Familia, onde dessa vez a cantora busca retornar às suas raízes cubanas para contar mais da sua vida, seus relacionamentos e das coisas que se passam em sua mente, como um ritmo latino e dançante. Dos três, esse é o meu álbum favorito dela e que eu acredito ser o melhor de sua carreira, um álbum que todo mundo deveria ouvir e que merecia mais reconhecimento. Abaixo estão o link do álbum para o Spotify e Apple Music, mas também está o link para a página do livro A Herança de Orquídea Divina no site oficial de Córdova, onde ela colocou alguns materiais extras como o convite que a matriarca envia para os membros da família, a playlist do livro e também a árvore genealógica dos Montoya, além de outras coisas que valem a pena dar uma olhada.


Familia, de Camila Cabello: Spotify | Apple Music

Site da autora


❧ A Herança de Orquídea Divina (publicado originalmente em 2021)

❧ Zoraida Córdova

❧ 350 páginas

❧ Editora Galera Record

❧ Tradução de Mel Lopes

❧ 4,5★

Comentários